5 de Outubro

Esta é uma data que assi­nala dois episó­dios chave na História de Por­tu­gal. Um dos episó­dios, ocor­ri­do há 102 anos, é sobe­ja­mente con­heci­do; o out­ro, ocor­ri­do há 869, é pouco con­heci­do, pelo menos a data exacta.

Admi­to que, eu próprio, ape­nas tomei con­hec­i­men­to deste últi­mo hoje.

A maior parte dos por­tugue­ses con­hecem sim, a data de 5 de Out­ubro de 1910, por ter sido a data em que, às 11 horas da man­hã, na sala nobre dos Paços do Con­cel­ho de Lis­boa, foi declar­a­da a implan­tação de um regime repub­li­cano em Por­tu­gal, sub­sti­tuin­do a monar­quia que reinara até então.

Além do dia da Implan­tação da Repúbli­ca Por­tugue­sa, hoje é tam­bém o dia em que, há 869 anos, D. Afon­so Hen­riques assi­nou, jun­ta­mente com o seu pri­mo D. Afon­so VII de Leão e Castela, o Trata­do de Zamo­ra, que recon­hecia a existên­cia do Reino de Por­tu­gal, dan­do origem efec­ti­va a este meu ado­ra­do país.

Neste dia, o auto-procla­ma­do Rei de Por­tu­gal, D. Afon­so Hen­riques, assi­nou um trata­do, na actu­al cidade de Zamo­ra, cidade espan­ho­la situ­a­da na provín­cia de Zamo­ra, comu­nidade autóno­ma de Castela e Leão, a cer­ca de 60 quilómet­ros de Miran­da do Douro e, à altura, per­ten­cente ao Reino de Castela e Leão. Este trata­do foi o resul­ta­do de uma con­fer­ên­cia entre os dois pri­mos, facil­i­ta­do pelas acções do arce­bis­po de Bra­ga, Dom João Pecu­liar, ben­e­fi­cian­do das acções deste últi­mo para a con­ver­são do Con­da­do Por­tu­calense em Reino de Portugal.

Foi neste dia que tudo começou! Des­de este dia até à con­quista da actu­al Faro, em 1249, o Reino cresceu, reti­ran­do ter­ritórios aos Mouros e algum ao Reino de Castela e Leão que tam­bém cresceu para Sul.

A Monar­quia prevale­ceu, com altos e baixos até que, em 1890, o Rei D. Car­los foi humil­ha­do pelo ulti­ma­to inglês, recla­man­do que Por­tu­gal se reti­rasse dos actu­ais ter­ritórios dos actu­ais Zim­bab­we e Zâm­bia, que per­mi­tiria lig­ar Ango­la a Moçam­bique. Esta cedên­cia ini­ciou um movi­men­to de descon­tenta­men­to para com o Rei, que cul­mi­nou no seu assas­sínio em pelo Ter­reiro do Paço em 1 de Fevereiro de 1908.

No dia 31 de Janeiro de 1891, Augus­to Manuel Alves da Veiga, da varan­da dos Paços do Con­cel­ho do Por­to, proclam­ou a implan­tação de um regime repub­li­cano, uma revol­ta que foi dura­mente puni­da, ten­do sido con­de­na­dos 250 indi­ví­du­os com penas des­de os 18 meses a 15 anos.

Mas o espíri­to repub­li­cano prevale­ceu e o Par­tido Repub­li­cano Por­tuguês foi gan­han­do força até que, em Agos­to de 1910 obteve uma vitória avas­sal­ado­ra, ele­gen­do 14 dep­uta­dos, 10 dos quais por Lisboa.

Na madru­ga­da de 3 de Out­ubro, for­mou-se uma con­cen­tração de 200 a 300 praças do Reg­i­men­to de Artil­haria 1, 50 a 60 praças de Infan­taria 16 e cer­ca de 200 pop­u­lares na Rotun­da, actu­al Praça Mar­quês de Pom­bal. Não chegaram a haver com­bat­es, E foi sufi­ciente para a declar­ação de implan­tação da Repúbli­ca, dois dias depois.

O feri­ado civ­il de 5 de Out­ubro foi elim­i­na­do do cal­endário ofi­cial por­tuguês na sequên­cia da elim­i­nação de 4 feri­ados ofi­ci­ais (2 civis e 2 reli­giosos), por pura vas­salagem à troi­ka, elim­i­nação cuja util­i­dade ain­da terá que ser prova­da. A jus­ti­fi­cação do Gov­er­no é que temos feri­ados a mais, quan­do até esta­mos na média europeia.

A dis­plicên­cia com que o Gov­er­no tra­ta esta data espel­ha-se no for­ma­to das cer­imó­nias de 2012. À por­ta fecha­da e as primeiras nas quais não par­tic­i­pa o Primeiro-Ministro.

Mes­mo o episó­dio car­i­ca­to de ser hastea­da a ban­deira nacional ao con­trário, o que nor­mal­mente se faz em for­ma de protesto, é iróni­co per­ante a situ­ação do país.

Espan­to-me com o desre­speito que o nos­so Gov­er­no tem pela Repúbli­ca, debaixo de cujo regime foram eleitos, que faz 102 anos!

Espan­to-me ain­da mais com o desre­speito que têm por Por­tu­gal pro­pri­a­mente dito, ao elim­i­nar este feri­ado dupla­mente impor­tante para todos os portugueses.

Viva Por­tu­gal!

Viva a República!

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