O português típico é esperto. Em Abril de 2009, a revista Cracked publicou uma lista de 10 palavras não inglesas que faziam falta ao inglês. Uma delas foi “desenrascanço”.
O “desenrascanço” é uma qualidade tipicamente portuguesa. O português típico socorre-se frequentemente desta qualidade para sair de situações difíceis, embaraçosas e não triviais.
Mas existe uma qualidade também tipicamente portuguesa que é a “esperteza”. Fico particularmente chateado quando a “esperteza” é aplicada à custa dos outros, e, mais ainda, aproveitando-se de uma qualquer condição de vida, para sair de certas situações.
Hoje, no habitual caminho para o trabalho, parei atrás de um carro caracterizado da Brigada Fiscal da GNR (afinal parece que não foi extinta) na saída do IC19 para S. Marcos. Como é habitual, forma-se sempre uma pequena fila (principalmente porque as pessoas não sabem andar em rotundas), que hoje era de cerca de 300 metros.
Ora, o dito carro da GNR já vinha à minha frente desde a entrada da Amadora (imediatamente antes da saída para o Palácio Nacional de Queluz), e seguia em marcha normal, isto é, sem pirilampos acesos e à mesma velocidade de todos os outros carros.
Confrontado com essa fila, o agente da GNR que conduzia a viatura não esteve com meias medidas: ligou os pirilampos e aproveitou-se para “furar” a dita fila para S. Marcos. Fiquei pior que estragado, mas, ao mesmo tempo, maravilhado com a “esperteza” do dito agente da autoridade…
Senti-me vilipendiado na minha condição de condutor, após ter assistido àquela cena de “esperteza saloia”, e acredito que outras pessoas ficaram com a mesma sensação, mas, ao mesmo tempo, maravilhado com a capacidade de desenrascanço daquele agente da GNR…
São estas e outras atitudes que fazem com que se respeite cada vez menos os agentes da autoridade deste país pelos quais, salvo raras excepções, tenho grande apreço e respeito.