15 de Setembro de 2012 — O dia que o povo não vai esquecer

O povo saiu à rua!

Praça de Espanha

 

Uma sem­ana depois do Primeiro-Min­istro Pedro Manuel Mamede Pas­sos Coel­ho ter admi­ti­do o fal­hanço na con­tenção da dívi­da públi­ca e anun­ci­a­do um aumen­to da con­tribuição para a Segu­rança Social por parte dos tra­bal­hadores, ao mes­mo tem­po que a reduzia para os empre­gadores, o Povo Por­tuguês quis mostrar a sua revol­ta, man­i­fe­s­tando-se paci­fi­ca­mente nas ruas de mais de 20 cidades portuguesas.

Quem viu as duas man­i­fes­tações diz que foi a maior man­i­fes­tação des­de o dia 1 de Maio de 1974, a primeira comem­o­ração do Dia do Tra­bal­hador depois da Rev­olução dos Cravos. Viram-se cravos na mão de várias pes­soas no pas­sa­do Sába­do, mas não me pos­so esque­cer das palavras de uma sen­ho­ra para a RTP Infor­mação “Não há cravos porque não há dinheiro!”.

Não me ven­ha diz­er que o Gov­er­no está a cumprir a von­tade do povo e que essa von­tade se exprime nas eleições… A von­tade do povo pode-se exprim­ir de muitas for­mas, e as man­i­fes­tações de Sába­do pas­sa­do são ape­nas uma for­ma. E que forma!

Dizem que, em Lis­boa, foram mais de 500 mil man­i­fes­tantes! Con­sideran­do que a pop­u­lação de Lis­boa é de cer­ca de 550 mil, estiver­am na rua mais de 90% da cidade e um quin­to da pop­u­lação da área met­ro­pol­i­tana, que não deixa de ser impressionante.

O povo revoltou-se con­tra o aumen­to da aus­teri­dade anun­ci­a­da por Pas­sos Coel­ho no dia 7 de Setem­bro. Ele falou de muitas coisas na gen­er­al­i­dade e ape­nas par­tic­u­lar­i­zou no aumen­to da Taxa Social Úni­ca (TSU) paga pelos tra­bal­hadores, ao mes­mo tem­po que anun­ci­a­va a redução para os empre­gadores. Durante a sem­ana toda foi crit­i­ca­do de for­ma inédi­ta por patrões, sindi­catos, tra­bal­hadores não sindi­cal­iza­dos, par­tidos políti­cos, sábios, advo­ga­dos, juízes, médi­cos, engen­heiros, e out­ros. Ape­nas o Gov­er­no dá razão ao Governo.

Pas­sos Coel­ho foi muito lesto a quan­tificar o aumen­to da con­tribuição por parte dos tra­bal­hadores e muito ler­do a quan­tificar quan­to iria cor­tar em fun­dações, parce­rias pub­li­co-pri­vadas (as famiger­adas PPPs), gestores públi­cos, etc. Far­ta-se de apelar à poupança e aumen­ta a taxa de IRS a pagar pelos depósi­tos a pra­zo. Não quan­tifi­ca quan­to irá encaixar com a trib­u­tação dos imóveis de luxo, ape­nas diz que se con­sid­er­am de luxo aci­ma de um val­or pat­ri­mo­ni­al de 1 mil­hão de euros. Em suma, gas­tou 20 min­u­tos do nos­so tem­po, em horário nobre, ape­nas para diz­er que irá afun­dar ain­da mais a econo­mia do nos­so país. Esquece-se que existe um tec­to de 5030 euros para a base da TSU, o que quer diz­er que, quem tem mais que isso de salário ilíqui­do, ape­nas paga 11% sobre esse val­or (António Mex­ia, às cus­tas deste tec­to, ape­nas pagou 7746,2 euros em 2011, quan­do teria de pagar cer­ca de 116.600 se não hou­vesse esse tec­to). Ain­da nos vem ati­rar areia para os olhos quan­do fala em equidade…

Faz isto antes de um jogo impor­tante da Selecção Nacional de Fute­bol, provavel­mente com a crença que o iríamos esque­cer depois do jogo, prin­ci­pal­mente se a Selecção gan­has­se, o que veio a acon­te­cer. Mas o povo não esqueceu.

O povo não esque­ceu ain­da de esper­ar por Paulo de Sacadu­ra Cabral Por­tas, líder do CDS-PP, Min­istro dos Negó­cios Estrangeiros e par­ceiro de col­i­gação gov­er­na­men­tal, quan­do ele se res­guardou no silên­cio, e bem, enquan­to se encon­tra­va em visi­ta ofi­cial ao Brasil.

O povo não se esque­ceu de Miguel Rel­vas, por muitos con­sid­er­a­do o bobo deste Gov­er­no, não se con­teve e desatou a comen­tar políti­ca inter­na no estrangeiro. Mais valia estar calado…

O povo não se esque­ceu depois de Paulo Por­tas ter con­vo­ca­do uma reunião do Con­sel­ho Nacional do CDS-PP para este fim-de-sem­ana, sug­erindo de algu­ma for­ma que o Gov­er­no estaria em risco, por via do descon­hec­i­men­to destas medi­das por Paulo Portas.

O povo não se esque­ceu, mes­mo depois de assi­s­tir à entre­vista con­ce­di­da por Pas­sos Coel­ho, na residên­cia ofi­cial do Primeiro-Min­istro, em que foi dito mais do mes­mo, ou seja, nada. Mais um rol de men­ti­ras e meias ver­dades dis­farçadas de patri­o­tismo, a aten­tar con­tra a seriedade, ded­i­cação e inteligên­cia dos portugueses.

O povo não se esque­ceu depois de obser­var o silên­cio ensur­de­ce­dor do Pres­i­dente da Repúbli­ca Aníbal António Cava­co Sil­va que se tem cal­a­do per­ante tal afronta aos dire­itos dos por­tugue­ses, não evi­tan­do bocas infe­lizes de não con­seguir pagar as suas con­tas com a refor­ma que aufere.

O povo não se esque­ceu das promes­sas do Gov­er­no, nas quais afir­ma que vai cor­tar as gor­duras do Esta­do, mas que ain­da não se sabem onde estão; as fun­dações de dire­ito pri­va­do que pouco ou nen­hum bene­fí­cio trazem, as ren­das atribuí­das a empre­sas que não pre­cisam delas, as PPPs rodoviárias, com taxas de rendibil­i­dade baseadas em parâmet­ros fixos e mal expli­ca­dos; os gas­tos com empre­sas públi­cas que cada vez mais cor­tam cus­tos onde não devem, nos tra­bal­hadores e aumen­tam preços dos serviços que fornecem ao públi­co; os priv­ilé­gios mal com­preen­di­dos dos gestores públi­cos, min­istros, secretários de esta­do, asses­sores, etc; as nomeações para car­gos públi­co, muitas vezes feitas por afinidade par­tidária e famil­iar a pes­soas que, sal­vo raras excepções, não reúnem nem exper­iên­cia, nem com­petên­cia para tais car­gos e, ain­da por cima, com salários muito aci­ma da média nacional. Pode­ria con­tin­uar a especi­ficar aqui gor­duras do Esta­do, que toda a gente sabe que exis­tem e ape­nas o Gov­er­no não as vê…

Paulo Por­tas con­tin­u­ou cal­a­do até à con­clusão do dito Con­sel­ho Nacional para diz­er que afi­nal não está de acor­do com o aumen­to da TSU, mas não blo­queou a decisão para não blo­quear as nego­ci­ações com a Troi­ka. Que grande coerên­cia! Que grande hipócri­ta! Que grande cíni­co! Men­tiu ao Povo por­tuguês, mas aci­ma de tudo (do pon­to de vista dele), aos “cre­dores inter­na­cionais” que tan­to preza.

Para Sex­ta-feira próx­i­ma está agen­da­da uma reunião do Con­sel­ho de Esta­do, o órgão con­sul­ti­vo do Pres­i­dente da Repúbli­ca, que lhe vai diz­er o que toda a gente sabe, mas que provavel­mente vai entrar num dos ouvi­dos de Cava­co Sil­va, ser acel­er­a­do pelo vazio que se encon­tra na sua cabeça e sair pelo out­ro ouvi­do muito dis­tor­ci­do e mais rapidamente.

Ago­ra é que começaram as nego­ci­ações para ten­tar encon­trar 2,5 mil mil­hões de euros, que devem ter desa­pare­ci­da da con­tabil­i­dade ger­al do Esta­do por obra e graça do Espíri­to San­to. Sen­hor Pro­fes­sor Doutor Vítor Louçã Rabaça Gas­par, Min­istro das Finanças, eu digo-lhe onde foram parar ess­es 2,5 mil mil­hões: foram as que­bras de recei­ta do IVA que aumen­tou, soma­do aos sub­sí­dios de desem­prego que aumen­taram, que, por sinal tam­bém reduz­iu em val­or indi­vid­ual, ali­a­dos aos gas­tos cres­centes das PPPs (que vão aumen­tar até pelo menos até 2015–2020), ali­a­dos ao juros usurários que são cobra­dos pela Troi­ka, e mais umas quan­tas parce­las que parece que fal­tam no seu ficheiro de Excel.

O povo não se vai esque­cer de ficar aten­to ao dia 15 de Out­ubro, data em que tem que ser divul­ga­do o Orça­men­to de Esta­do para 2013. Podem crer, pes­soas do Gov­er­no, que nos lem­braremos de protes­tar se con­tin­uar a políti­ca de espo­li­ação do povo.

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