Transportes públicos

Há umas sem­anas fui obri­ga­do a andar de trans­portes públicos.

Já há muito que não o fazia…

Con­fes­so que não ten­ho saudades das, ago­ra maiores, lon­gas cam­in­hadas, mas não pos­so diz­er que não gos­to, no geral.

Nos trans­portes públi­cos pode-se ler, jor­nais, livros, nave­g­ar na Inter­net, ouvir músi­ca, que nos iso­la quase por com­ple­to do exte­ri­or, enquan­to não cheg­amos ao nos­so destino.

Não é den­tro de um car­ro, no trân­si­to, muitas vezes pára arran­ca, que se sente o pul­sar de uma cidade; é nos trans­portes públi­cos. Umas pes­soas apres­sadas, out­ras cal­mas, que ficam para trás nas filas para os pór­ti­cos de saí­da, umas com ar feliz, out­ras tristes, out­ras res­ig­nadas, mas sem­pre com deslo­can­do-se no mes­mo sen­ti­do, a maior parte toman­do sem­pre o mes­mo per­cur­so, de casa para o trabalho.

À noite, o per­cur­so inverte-se, e as caras mostram-se cansadas, mais felizes por ir para casa, mas sem­pre res­ig­nadas com a roti­na do dia-a-dia.

Nos trans­portes públi­cos vêm-se novos, vel­hos e assim assim; nas horas de pon­ta cheg­amo-nos a sen­tir como sardinhas enlatadas, tal a quan­ti­dade de pes­soas que se acu­mu­lam nos com­boios ou no metro, já demasi­a­do atrasadas para poderem apan­har o seguinte.

Sen­tem-se cheiros, uns agradáveis, out­ros nem por isso.

Mas não há nada que se com­pare à tran­quil­i­dade algo inqui­eta, estran­ha, con­tra­ditória, dos trans­portes públicos.

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Opinião de um aluno (que, por acaso, é grego…)

Car­ta aber­ta de um estu­dante liceal grego (Traduzi­da de “Echte Democ­ra­tie Jetzt”):

Aos meus pro­fes­sores… e aos outros:

O meu nome é K. M., sou aluno do últi­mo ano num liceu em Drapet­sona, Pireu.

Deci­di escr­ev­er este tex­to porque quero exprim­ir a min­ha fúria, a min­ha revol­ta pelo atre­vi­men­to e pela hipocrisia daque­les que nos gov­er­nam e daque­les jor­nal­is­tas e media main­stream que os aju­dam a pôr em práti­ca os seus planos ile­gais e imorais em detri­men­to dos alunos, dos estu­dantes e de todos jovens.

A min­ha razão para escr­ev­er é a intenção dos meus pro­fes­sores de faz­er greve durante o perío­do dos exam­es de admis­são à Uni­ver­si­dade e os políti­cos e jor­nal­is­tas que choram lágri­mas de croc­o­di­lo sobre o meu futuro, o qual “estaria em causa” dev­i­do à greve.*

De que falam vocês? Que espé­cie de futuro ten­ho eu dev­i­do a vocês? E quem é que ver­dadeira­mente pôs em causa o meu futuro?

Deit­e­mos uma vista de olhos sobre quem, já há muito tem­po, con­strói o futuro e toda a nos­sa vida:

- Quem con­stru­iu o futuro do meu avô?

- Quem vestiu o seu futuro com as roupas vel­has da admin­is­tração das Nações Unidas para a aju­da de emergên­cia e recon­strução e o obrigou a emi­grar para a Alemanha?

- Quem gov­ernou mal e estripou este país?

- Quem obrigou a min­ha mãe a tra­bal­har do nascer ao pôr-de-sol por 530 euros por mês? Din­heiro que, uma vez paga a comi­da e as con­tas, nem chega para um par de sap­atos, para já não falar num livro usa­do que eu que­ria com­prar numa feira de rua.

- Quem reduz­iu a metade o orde­na­do do meu pai?

- Quem o calu­niou, quem o ameaçou, quem o obrigou a regres­sar ao tra­bal­ho sob a ameaça da req­ui­sição civ­il, quem o ameaçou de des­ped­i­men­to, jun­ta­mente com todos os seus cole­gas dos serviços de trans­portes públi­cos quan­do eles, que ape­nas que­ri­am viv­er com dig­nidade, entraram em greve?

- Quem procurou encer­rar a uni­ver­si­dade que o meu irmão fre­quen­ta para atin­gir alguns dos seus sonhos?

- Quem me deu fotocópias em vez de man­u­ais escolares?

- Quem me deixa enrege­lar na min­ha sala de aula sem aquecimento?

- Quem car­rega com a cul­pa de os alunos das esco­las des­ma­iarem de fome?

- Quem lançou tan­ta gente no desemprego?

- Quem con­duz­iu 4.000 pes­soas ao suicídio?

- Quem man­da de vol­ta para casa os nos­sos avós sem cuida­dos médi­cos e sem medicamentos?

Foram os meus pro­fes­sores que fiz­er­am tudo isto? Ou foram VOCÊS que fiz­er­am tudo isto?

Vocês dizem que os meus pro­fes­sores vão destru­ir os meus son­hos fazen­do greve.

Quem vos disse algu­ma vez que o meu son­ho é ser mais um desem­pre­ga­do entre os 67% de jovens que estão no desemprego?

Quem vos disse que o meu son­ho é tra­bal­har sem segu­rança social e sem horários reg­u­lares por 350 euros por mês, como deter­mi­nam as vos­sas mais recentes alter­ações às leis laborais?

Quem vos disse que o meu son­ho é emi­grar por razões económi­cas? Quem vos disse que o meu son­ho é ser moço de recados?

Gostaria de diri­gir algu­mas palavras aos meus pro­fes­sores e aos pro­fes­sores em toda a Grécia:

Pro­fes­sores, vocês NÃO devem recuar um úni­co pas­so no vos­so com­pro­mis­so para connosco. Se recuarem ago­ra na vos­sa luta, então sim, estarão ver­dadeira­mente a pôr em causa o meu futuro. Estarão a hipotecá-lo.

Qual­quer recuo vos­so, qual­quer vitória que o gov­er­no obten­ha, roubará o meu sor­riso, os meus son­hos, a min­ha esper­ança numa vida mel­hor e em com­bat­er por uma sociedade mais humana.

Aos meus pais, aos meus cole­gas e à sociedade em ger­al ten­ho a diz­er o seguinte:

Quereis ver­dadeira­mente que aque­les que nos ensi­nam vivam na miséria?

Quereis que sejamos molda­dos nas salas de aulas como mer­cado­rias de pro­dução maciça?

Quereis que eles fechem cada vez mais esco­las e con­stru­am cada vez mais prisões?

Ides deixar os nos­sos pro­fes­sores soz­in­hos nes­ta luta? É para isso que nos edu­cais, para que recuse­mos a nos­sa solidariedade?

Quereis que os nos­sos pro­fes­sores sejam para nós um exem­p­lo de respeito por nós próprios, de dig­nidade e de mil­itân­cia cívi­ca? Ou preferis que nos dêem um exem­p­lo de escravidão consentida?

Final­mente, quereis que viva­mos como escravos?

De aman­hã em diante, todos os alunos e pais devi­am ocu­par-se de apoiar os pro­fes­sores com uma palavra de ordem: “Avançar e der­ro­tar a tira­nia fascista!”

Lute­mos jun­tos por uma edu­cação de qual­i­dade, públi­ca e livre. Lute­mos jun­tos para der­rubar aque­les que roubam o nos­so riso e o riso dos vos­sos filhos.

PS: Men­ciono as min­has notas do ano lec­ti­vo 2011/12, não por vaidade mas para cor­tar a palavra àque­les que avançarem com o argu­men­to ridícu­lo de que “só quero escapar às aulas”: Com­por­ta­men­to do aluno: “Muito Bom”. Clas­si­fi­cação média: 20 (“Exce­lente”) [a nota mais alta nos liceus gregos].

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A causa profunda dos problemas de governação está no sistema eleitoral

A seguir repro­du­zo um tex­to que li no Face­book, que fala sobre o esta­do da democ­ra­cia em Por­tu­gal, sis­temas eleitorais, o nos­so e como o mel­ho­rar. Algo lon­go, mas muito esclare­ce­dor. Con­segue ain­da jus­ti­ficar o por quê de serem sem­pre as mes­mas caras na nos­sa políti­ca, des­de há muitos anos para cá.

Por Jorge Tavares a Segun­da-feira, 10 de Setem­bro de 2012 às 0:34

Há vários anos que pen­so inten­sa­mente no que há de erra­do com a políti­ca e gov­er­nação de Por­tu­gal. Cheguei a uma con­clusão clara: a raiz do prob­le­ma está no sis­tema eleitoral.

É assim porque ao con­trário do que se ver­i­fi­ca em qual­quer democ­ra­cia genuí­na, o sis­tema eleitoral por­tuguês não con­fere qual­quer poder de escrutínio sobre os políti­cos. Por­tu­gal é quase o úni­co País europeu cujo sis­tema eleitoral não per­mite aos eleitores escol­herem o can­dida­to em que querem votar para os rep­re­sen­tar no par­la­men­to. Isso tem con­se­quên­cias gravís­si­mas em ter­mos de desem­pen­ho económi­co, ren­o­vação inter­na dos par­tidos e corrupção.

A maio­r­ia dos por­tugue­ses jul­ga que “Por­tu­gal é uma democ­ra­cia”, talvez porque os por­tugue­ses “têm o voto”. Mas quase ninguém olha para o que o nos­so voto decide: QUASE NADA. Em Por­tu­gal, as ver­dadeiras “eleições”, já tiver­am lugar sem­anas antes, quan­do os par­tidos fiz­er­am as suas lis­tas. É por isso que os par­tidos querem sem­pre muito tem­po para as preparar, mes­mo em esta­do de emergên­cia nacional. É porque são essas lis­tas que deci­dem quase tudo. Em par­tic­u­lar, podem garan­tir um lugar no par­la­men­to, mes­mo quan­do o par­tido tem uma grande der­ro­ta nas eleições.

Os por­tugue­ses estão reduzi­dos a “votar” em lis­tas cuja ordem já foi deci­di­da… pelos próprios políti­cos! Este tipo de “voto” col­ide com alguns princí­pios fun­da­men­tais da democ­ra­cia. Quan­do a ordem dos can­didatos nas lis­tas dos par­tidos não depende das escol­has dos eleitores, tem de depen­der de algu­ma out­ra coisa — e qual­quer que seja essa out­ra coisa, já não é democracia.

O que fal­ta aos por­tugue­ses é o VOTO NOMINAL. Este voto diz-se “nom­i­nal” porque o eleitor encon­tra NOMES no bole­tim de voto. Não são pre­cisos cír­cu­los uni­nom­i­nais para haver voto nom­i­nal. Os cír­cu­los uni­nom­i­nais são assim chama­dos porque o cír­cu­lo só elege um nome, uma pes­soa. As eleições para a presidên­cia da repúbli­ca por­tugue­sa são as úni­cas eleições em Por­tu­gal com voto nom­i­nal — mas para um car­go não-exec­u­ti­vo e não-leg­isla­ti­vo. Por aca­so, são uni­nom­i­nais: o “cír­cu­lo” (toda a Nação) elege ape­nas um dos candidatos.

Os políti­cos por­tugue­ses gostam de se referir ao nos­so sis­tema par­tidocráti­co como “sis­tema rep­re­sen­ta­ti­vo”. É um LOGRO, pois de rep­re­sen­ta­ti­vo, este sis­tema não tem nada. Para que o sis­tema mere­cesse ser apel­i­da­do de “rep­re­sen­ta­ti­vo”, seria essen­cial que hou­vesse uma relação direc­ta entre as prefer­ên­cias dos eleitores e a ida de deter­mi­na­do can­dida­to para o par­la­men­to. Um “rep­re­sen­tante” só o é, se for ESCOLHIDO pelos rep­re­sen­ta­dos, PREFERIDO entre várias escol­has. Se nós não podemos escol­her o mem­bro da lista que quer­e­mos para dep­uta­do, esse alguém NÃO nos rep­re­sen­ta. Segu­ra­mente que os dep­uta­dos por­tugue­ses rep­re­sen­tam alguém… mas não é quem vota.

O ver­dadeiro nome do nos­so sis­tema eleitoral é “sis­tema pro­por­cional de lis­tas fechadas”, queren­do “fechadas” (ou blo­queadas) diz­er que a ordem das lis­tas é IMPOSTA pelo par­tidos em vez de ser deter­mi­na­da pelos eleitores. Na Europa além de Por­tu­gal, já são poucos os país­es que o usam. Fac­to curioso: incluem a Albâ­nia, Ucrâ­nia e Rús­sia… É com ess­es País­es que nos quer­e­mos com­parar em ter­mos de democracia?

(Fonte: Wikipedia “closed list”)

As eleições leg­isla­ti­vas por­tugue­sas têm VENCEDORES ANTECIPADOS. São os can­didatos em “lugares elegíveis”: lugares que dão ao can­dida­to a GARANTIA de que vai ser dep­uta­do, duma maneira que nada tem a ver com as prefer­ên­cias do eleitora­do. Isto pode ser com­pro­va­do pesquisan­do a expressão “lugares elegíveis” na Inter­net. Se usar­mos o Google, bas­ta ler as “gor­das” das primeiras pági­nas, respei­tantes a páginas/notícias de jor­nais feitas ao lon­go dos anos. No meio das ocor­rên­cias encon­tradas, encontramos:

- “Lugares elegíveis devem ser reser­va­dos a mulheres”

- “Hele­na Rose­ta quer dois lugares elegíveis na lista de António Costa …”

- “Os can­didatos do PS em lugares elegíveis — Políti­ca — PUBLICO.PT

- “Três vimara­nens­es do PSD em lugares elegíveis às leg­isla­ti­vas, mas (..)”

- “Isabel Cas­tro sai de lugar elegív­el — JN

- “Juven­tude Social­ista espera ter oito dep­uta­dos em lugares elegíveis”

Em suma, assume-se como pres­su­pos­to que há lugares no par­la­men­to que estão RESERVADOS e que quem quer ser dep­uta­do, não deve pedir votos aos eleitores, mas aos caciques dos prin­ci­pais par­tidos, quan­do estes elab­o­ram as lis­tas. 

Con­vi­do todos a per­guntarem-se se esta práti­ca é com­patív­el com o princí­pio de que “em eleições democráti­cas, não há vence­dores ante­ci­pa­dos”. Esta exac­ta frase, ouvi‑a ser pro­feri­da por Manuel Ale­gre, na qual­i­dade de can­dida­to pres­i­den­cial. Tam­bém ouvi José Sócrates pro­ferir uma frase pare­ci­da nas eleições leg­isla­ti­vas de 2011. Claro, ess­es políti­cos não se refe­ri­am aos “lugares elegíveis”, mas o princí­pio que citavam apli­ca-se-lhes tam­bém. Cada vez que os políti­cos por­tugue­ses fazem refer­ên­cia a esse princí­pio, estão implici­ta­mente (e inad­ver­tida­mente) a afir­mar que Por­tu­gal não é democráti­co — ou pelo menos, não o é inteira­mente.

Com este sis­tema eleitoral, não é pos­sív­el negar o voto aos políti­cos, pois os nomes deles não apare­cem nos boletins de voto. Alguns país­es aten­uaram esta fal­ta de rep­re­sen­ta­tivi­dade com a real­iza­ção de primárias (cf. Wikipedia “closed list”), para envolver os cidadãos na elab­o­ração das lis­tas. Em Por­tu­gal, nun­ca se realizaram primárias. Quan­do António José Seguro assum­iu a lid­er­ança do PS, propôs que o PS pas­sasse a realizar primárias. Depres­sa os mil­i­tantes mataram essa ideia.

Uma maneira de insti­tuir o dire­ito de negar o voto aos políti­cos seria tratar os votos bran­cos como um par­tido políti­co para efeitos de atribuição de lugares. Porém, no sis­tema por­tuguês os votos bran­cos não entram nas con­ta­gens. Além dis­so, a imposição da (actu­al) con­sti­tu­ição de que o número de dep­uta­dos seja de pelo menos 180 col­ide com uma tal medida.

Tam­bém não é pos­sív­el negar o voto aos par­tidos, pois o par­la­men­to enche-se sem­pre com 230 dep­uta­dos, não impor­ta quan­tos votem. Usan­do um deter­mi­na­do con­jun­to de lis­tas eleitorais, duas eleições — uma com 99% do eleitora­do e out­ra com 1% — podem resul­tar em EXACTAMENTE o mes­mo elen­co par­la­men­tar.O “voto” dos por­tugue­ses só per­mite cal­i­brar (a fino) a dis­tribuição rel­a­ti­va dos 230 deputados.

Uma maneira de sus­ten­tar o dire­ito de se negar o voto aos par­tidos seria per­mi­tir a can­di­datu­ra de lis­tas de cidadãos inde­pen­dentes dos par­tidos. Porém, essa via tam­bém não é per­mi­ti­da aos portugueses.

Um voto em lis­tas cuja ordem já foi deci­di­da não elege nem escrutina.

Os proces­sos eleitorais com este regime já duram há décadas. Os par­tidos tiver­am tem­po para se orga­ni­zar no sen­ti­do de explo­rar ao máx­i­mo o poder, imu­nidade e impunidade que o sis­tema lhes con­fere. Não é pois de admi­rar que haja tan­ta cor­rupção em Por­tu­gal: este sis­tema eleitoral parece per­feito para prop­i­ciá-la. Há cor­rupção porque os lóbis têm mais poder do que os eleitores — sobre­tu­do no par­la­men­to, a casa da par­tidoc­ra­cia.

Con­vém com­preen­der que, quan­to mais fra­ca é a influên­cia do eleitora­do sobre os dep­uta­dos e gov­er­nantes, mais forte é a influên­cia de out­ras “forças”. Nun­ca há vazios de poder. Como o nos­so sis­tema eleitoral neu­tral­iza toda a capaci­dade de escrutínio que o voto democráti­co pode­ria (e dev­e­ria) ter, os gru­pos de inter­esse tiver­am o cam­in­ho aber­to para o cap­turar o par­la­men­to. O eleitora­do é impe­di­do de exercer a sua função de con­trape­so à influên­cia dos lóbis no par­la­men­to, de modo que é fácil para os lóbis man­ter lig­ações ocul­tas com dep­uta­dos. Estes per­pet­u­am-se no par­la­men­to, numa situ­ação estáv­el e blinda­da con­tra as prefer­ên­cias dos eleitores.

Sem voto nom­i­nal, são os gru­pos de inter­esse que são rep­re­sen­ta­dos no par­la­men­to, não os eleitores.

Assim, os par­tidos trans­for­maram-se em máquinas de sug­ar recur­sos da sociedade e da econo­mia (antes eu dizia que eram máquinas de dis­tribuir empre­gos; porém, fui-me aperceben­do de que a real­i­dade é ain­da mais sis­temáti­ca e alar­mante, graças às denún­cia de enti­dades como Med­i­na Car­reira, José Gomes Fer­reira, Paulo de Morais, o Movi­men­to Rev­olução Bran­ca e out­ros). O par­la­men­to pos­sui um poder quase abso­lu­to sobre os por­tugue­ses. Após cap­turarem o par­la­men­to, os par­tidos “de poder” cap­turaram todas as insti­tu­ições inde­pen­dentes e des­or­ga­ni­zaram as restantes no sen­ti­do de as tornar inefi­cazes enquan­to agentes de escrutínio (sis­tema de justiça) ou até de ideias (sis­tema educativo).

Como fun­ciona a ren­o­vação inter­na dos partidos?

Cos­tu­ma diz­er-se, a respeito do regime de par­tidos de Por­tu­gal, que “o sis­tema não é refor­máv­el por den­tro”. Claro que não é! Este tipo de sis­temas NUNCA é refor­máv­el por den­tro. A ren­o­vação dos par­tidos é SEMPRE dirigi­da por pressões exter­nas. Nos regimes democráti­cos, essas pressões são os votos em eleições, que trans­mitem aos par­tidos os sinais sobre os políti­cos que mere­cem pro­gredir (porque têm votos) e os políti­cos que devem sair de cena (porque ninguém  vota neles). Mas para isso fun­cionar, os votos têm de ser em nomes, i.e. NOMINAIS! A ausên­cia de voto nom­i­nal abafa os sinais que o eleitora­do por­tuguês tem para enviar aos par­tidos. A ausên­cia de voto nom­i­nal impede o eleitora­do por­tuguês de desem­pen­har o seu papel na ren­o­vação inter­na dos par­tidos.

Graças à blindagem con­tra o escrutínio, per­pet­u­am-se os caciques par­tidários. Ape­nas os que têm a sua anuên­cia sobem nas estru­turas dos par­tidos. Como já decor­reu muito tem­po des­de que o actu­al sis­tema foi insti­tuí­do, o pes­soal que dom­i­na os apar­el­hos já é o da segun­da ger­ação. São os chama­dos “jot­in­has”: pes­soas que ingres­saram nos par­tidos quan­do eram novas demais para terem cur­sos supe­ri­ores ou exper­iên­cia profis­sion­al. Viver­am des­de sem­pre ali­men­tadas pela par­tidoc­ra­cia. Não têm cur­rícu­lo profis­sion­al e nun­ca tra­bal­haram despro­te­gi­das. Viver­am sem­pre das “ren­das” que a par­tidoc­ra­cia lhes dava. Isto expli­ca porque razão o sis­tema não é estáv­el: num País com um sis­tema destes, a situ­ação nun­ca parará de se degradar. Mes­mo com a primeira ger­ação, ain­da muni­da de mui­ta gente com­pe­tente, expe­ri­ente e hon­ra­da, Por­tu­gal entrou na ban­car­ro­ta por duas vezes — a actu­al ban­car­ro­ta é a ter­ceira (!) des­de o 25/Abril. É pre­visív­el que com a “ger­ação jot­in­ha”, o desem­pen­ho de Por­tu­gal seja ain­da pior.

É impos­sív­el resolver o prob­le­ma de Por­tu­gal sem intro­duzir o voto nom­i­nal no sis­tema eleitoral. O cam­in­ho que pro­pon­ho é insti­tuir a eleição nom­i­nal dos dep­uta­dos. Enquan­to isto não acon­te­cer, os por­tugue­ses serão gov­er­na­dos por políti­cos que detes­tam, que não querem em car­gos de poder, mas cuja “eleições” não podem travar.

Que mod­ern­iza­ção do sis­tema eleitoral por­tuguês deve ser proposta?

Ideal­mente, qual­quer novo sis­tema eleitoral deve:

1) dar o dire­ito de se negar o voto, quer a par­tidos, quer a políti­cos individuais.

2) Deve esta­b­ele­cer uma relação direc­ta entre os votos e TODOS os lugares de dep­uta­dos (sem coutadas reser­vadas, nomeada­mente na for­ma dum cir­cu­lo nacional com lis­tas “fechadas” — a exi­s­tir, um tal cír­cu­lo nacional deve ser uma lis­tas aber­ta — à orde­nação pelos votos).

3) Deve ser sim­ples (para favore­cer a fácil com­preen­são do povo por­tuguês e evi­tar a eterniza­ção de nego­ci­ações entre bancadas).

Mas não chega um sis­tema eleitoral ser “bom”. É pre­ciso ten­ha car­ac­terís­ti­cas tais que neu­tral­ize os argu­men­tos que os par­tidocratas do actu­al regime vão garan­ti­da­mente “con­stru­ir” para matar a proposta.

Assim, a refor­ma eleitoral a pro­por deve também:

a) Evi­tar prej­u­dicar uns par­tidos em relação a out­ros, pois qual­quer pro­pos­ta que o faça angaria ime­di­ata­mente ess­es par­tidos con­tra a causa. Bas­ta ver o que acon­tece com a mera diminuição do número de dep­uta­dos: os “grandes” não se impor­tam, os “pequenos” são clara­mente con­tra. O proces­so fica logo envenenado.

b) Evi­tar dar margem para (bons) argu­men­tos para ser rejeita­da. Logo, deve procu­rar ser o mais mod­er­a­da e pací­fi­ca que possível.

c) Não ser vul­neráv­el a acusações de ser “uma aven­tu­ra”. Isto apon­ta para a exclusão de pro­postas “exper­i­men­tal­is­tas”, tipo “democ­ra­cia direc­ta”, ou de novos sis­temas “inven­ta­dos”. Pelos mes­mos motivos, tam­bém se deve evi­tar pro­postas de sis­temas con­heci­dos, mas muito difer­entes do actual.

Cír­cu­los uninominais?

Pelos motivos apre­sen­ta­dos, não é uma estraté­gia real­ista pro­por uma mudança do nos­so sis­tema para cír­cu­los uni­nom­i­nais. É de fac­to um sis­tema mel­hor do que o nos­so sis­tema (actu­al) do pon­to de vista da maio­r­ia dum eleitora­do. Pro­move a ren­o­vação inter­na dos par­tidos e não per­mite vence­dores ante­ci­pa­dos. Porém, é muito difer­ente do nos­so: logo, é uma “aven­tu­ra”. Pior, é alta­mente não-pro­por­cional, o que prej­u­di­ca algu­mas fran­jas dum eleitora­do e seus par­tidos rep­re­sen­tantes. Do pon­to de vista das reais hipóte­ses de vin­gar em Por­tu­gal é muito mau, pois requere­ria o delim­i­tar de muitos cír­cu­los eleitorais. Até abriria out­ros debates, por exem­p­lo sobre quan­tos cír­cu­los deve haver! Muito com­pli­ca­do. É evi­dente que as nego­ci­ações entre ban­cadas par­la­mentares (e con­sti­tu­intes — pois é necessária uma revisão con­sti­tu­cional) eternizar-se-iam — muito con­ve­niente para caciques par­tidários deci­di­dos a sab­o­tar quais­quer pro­postas de os sub­me­terem a um genuíno escrutínio democráti­co. Um tal proces­so de refor­ma não é exe­quív­el e acabaria por morrer.

Feliz­mente, há uma solução que preenche todos os req­ui­si­tos: o sis­tema pro­por­cional de lis­tas abertas.

(Fonte: Wikipedia “open list”)

O sis­tema de lis­tas aber­tas fun­ciona em muitos país­es europeus, incluí­do Áus­tria, Bél­gi­ca, Dina­mar­ca, Fin­lân­dia, Holan­da, Norue­ga, Sué­cia, Suíça, etc.

Até o Brasil usa lis­tas aber­tas: pre­sen­te­mente, o Brasil é um país mais democráti­co do que Por­tu­gal!

Se quis­er­mos, o sis­tema de lis­tas aber­tas pode ser exac­ta­mente igual ao nos­so, excep­to que a ordem de atribuição dos lugares de dep­uta­do é em função de quem tem mais votos. Con­siste em meter as lis­tas dos par­tidos nos boletins de voto e deixar que cada eleitor escol­ha um nome (i.e., voto nom­i­nal). A ordem pela qual os lugares do par­la­men­to são atribuí­dos em função de quem tem mais votos. Se quis­er­mos, todo o resto do actu­al sis­tema pode man­ter-se como actual­mente, incluin­do a pro­por­cional­i­dade (entre votos e dep­uta­dos) e o méto­do de D’Hondt. Para isso, bas­ta que um voto num can­dida­to con­te tam­bém como voto na lista a que esse can­dida­to per­tence. Deixa de haver “lugares elegíveis” e can­didatos com a garan­tia prévia de terem um lugar. Ou seja, pas­sa a haver escrutínio.

Resumo:

Basi­ca­mente, a mod­ern­iza­ção do sis­tema eleitoral de Por­tu­gal com mais hipóte­ses de vin­gar con­siste em:

1) man­ter o sis­tema pro­por­cional, com exac­ta­mente os mes­mos cír­cu­los eleitorais, mas pas­san­do de lis­tas fechadas para lis­tas aber­tas.

O voto num can­dida­to con­ta tam­bém como um voto na lista a que esse can­dida­to per­tence. Des­ta maneira, o méto­do de D’Hondt pode con­tin­uar a ser usa­do exac­ta­mente como até ago­ra. Em suma: o voto nom­i­nal des­ti­na-se a deter­mi­nar a ordem das lis­tas eleitorais; nada mais.

2) per­mi­tir a can­di­datu­ra de lis­tas de cidadãos inde­pen­dentes, não lig­a­dos aos par­tidos. Des­ta maneira, con­fere-se aos eleitores algum dire­ito de negar o voto aos partidos.

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Observatórios de tudo e mais alguma coisa

DIVULGUEM !!! ACTUEM!!!! A PACIÊNCIA ESGOTOU-SE !!!!
Com tan­ta difi­cul­dade em cor­tar a despe­sa ( falar é fácil ….diz este
Gov­er­no que não quer­e­mos )  será que não con­seguem dar uma GRANDE
LIMPEZA nes­ta lista….

Depois das fun­dações, tín­hamos esque­ci­do os observatórios…

  • Obser­vatório do medica­men­tos e dos pro­du­tos da saúde
  • Obser­vatório nacional de saúde
  • Obser­vatório por­tuguês dos sis­temas de saúde
  • Obser­vatório da doença e mor­bil­i­dade (…se só para a saúde são 3 para a doença 1 é pouco!!!)
  • Obser­vatório vida
  • Obser­vatório do orde­na­men­to do território
  • Obser­vatório do comércio
  • Obser­vatório da imigração
  • Obser­vatório para os assun­tos da família
  • Obser­vatório per­ma­nente da juventude
  • Obser­vatório nacional da dro­ga e toxicodependência
  • Obser­vatório europeu da dro­ga e toxicodependência
  • Obser­vatório geopolíti­co das dro­gas (…mais 3 !!!)
  • Obser­vatório do ambiente
  • Obser­vatório das ciên­cias e tecnologias
  • Obser­vatório do turismo
  • Obser­vatório para a igual­dade de oportunidades
  • Obser­vatório da imprensa
  • Obser­vatório das ciên­cias e do ensi­no superior
  • Obser­vatório dos estu­dantes do ensi­no superior
  • Obser­vatório da comunicação
  • Obser­vatório das activi­dades culturais
  • Obser­vatório local da Guarda
  • Obser­vatório de inserção profissional
  • Obser­vatório do emprego e for­mação profissional (…???)
  • Obser­vatório nacional dos recur­sos humanos
  • Obser­vatório region­al de Leiria(…o que é que esta gente fará ??)
  • Obser­vatório sub-region­al da Batal­ha (…deve obser­var o que o de Leiria dev­e­ria fazer ??)
  • Obser­vatório per­ma­nente do ensi­no secundário
  • Obser­vatório per­ma­nente da justiça
  • Obser­vatório estatís­ti­co de Oeiras (…deve ser para obser­var o SATU !!!)
  • Obser­vatório da cri­ação de empresas
  • Obser­vatório do emprego em Por­tu­gal  (…este é mes­mo brincadeira !!!)
  • Obser­vatório por­tuguês para o desem­prego  (…este deve ser para “espi­ar” o
  • ante­ri­or !!!)
  • Obser­vatório Mcom
  • Obser­vatório têxtil
  • Obser­vatório da neolo­gia do por­tuguês (…impor­tante para os acor­dos “Brasi­laicos-Portuenses” e mudar a Estória deste Brasilogal !!!)
  • Obser­vatório de segurança
  • Obser­vatório do desen­volvi­men­to do Alen­te­jo (…este deve ser para cri­ar o tal deser­to do Sr. “jamé” !!!)
  • Obser­vatório de cheias (…lol…lol…)
  • Obser­vatório das secas (…boa…)
  • Obser­vatório da sociedade de informação
  • Obser­vatório da ino­vação e conhecimento
  • Obser­vatório da qual­i­dade dos serviços de infor­mação e conhecimento(…mais 3 !!!)
  • Obser­vatório das regiões em reestruturação
  • Obser­vatório das artes e tradições
  • Obser­vatório de fes­tas e património
  • Obser­vatório dos apoios educativos
  • Obser­vatório da globalização
  • Obser­vatório do endi­vi­da­men­to dos con­sum­i­dores (…serão da DECO ??)
  • Obser­vatório do sul Europeu
  • Obser­vatório europeu das relações profissionais
  • Obser­vatório trans­fron­teir­iço Espan­ha-Por­tu­gal  (…o que é estes fazem ???)
  • Obser­vatório europeu do racis­mo e xenofobia
  • Obser­vatório para as crenças reli­giosas  (…geri­do pelo Patri­ar­ca­do com din­heiros públicos ???)
  • Obser­vatório dos ter­ritórios rurais
  • Obser­vatório dos mer­ca­dos agrícolas
  • Obser­vatório dos mer­ca­dos rurais (…espetac­u­lar)
  • Obser­vatório vir­tu­al da astrofísica
  • Obser­vatório nacional dos sis­temas mul­ti­mu­nic­i­pais e munic­i­pais (…val­ha-nos a virgem !!!)
  • Obser­vatório da segu­rança rodoviária
  • Obser­vatório das prisões portuguesas
  • Obser­vatório nacional dos diabetes
  • Obser­vatório de políti­cas de edu­cação e de con­tex­tos educativos
  • Obser­vatório ibéri­co do acom­pan­hamen­to do prob­le­ma da degradação dos povoa­men­tos de sobreiro e azin­heira (lol…lol…)
  • Obser­vatório estatístico
  • Obser­vatório dos tar­ifários e das tele­co­mu­ni­cações (…este não existe!!! é mes­mo tacho !!!)
  • Obser­vatório da natureza
  • Obser­vatório qual­i­dade (…de quê??)
  • Obser­vatório quan­ti­dade (…este deve obser­var a cor­rupção descarada)
  • Obser­vatório da lit­er­atu­ra e da literacia
  • Obser­vatório nacional para o anal­fa­betismo e iliteracia
  • Obser­vatório da inteligên­cia económi­ca (hé! hé!! hé!!!)
  • Obser­vatório para a inte­gração de pes­soas com deficiência
  • Obser­vatório da com­pet­i­tivi­dade e qual­i­dade de vida
  • Obser­vatório nacional das profis­sões de desporto
  • Obser­vatório das ciên­cias do 1º ciclo
  • Obser­vatório das ciên­cias do 2º ciclo (…será que a Troi­ka man­dou fechar os do 3º, 4º e 5º ciclos)
  • Obser­vatório nacional da dança
  • Obser­vatório da lín­gua portuguesa
  • Obser­vatório de entradas na vida activa
  • Obser­vatório europeu do sul
  • Obser­vatório de biolo­gia e sociedade
  • Obser­vatório sobre o racis­mo e intolerância
  • Obser­vatório per­ma­nente das orga­ni­za­ções escolares
  • Obser­vatório médico
  • Obser­vatório solar e heliosférico
  • Obser­vatório do sis­tema de avi­ação civ­il (…o que é este gente fará ??)
  • Obser­vatório da cidadania
  • Obser­vatório da segu­rança nas profissões
  • Obser­vatório da comu­ni­cação local(…e estes ???)
  • Obser­vatório jor­nal­is­mo elec­tróni­co e multimédia
  • Obser­vatório urbano do eixo atlân­ti­co (…min­ha nos­sa senhora !!!)
  • Obser­vatório robótico
  • Obser­vatório per­ma­nente da segu­rança do Por­to (…e se cada cidade fos­se cri­a­do um !!!)
  • Obser­vatório do fogo (…que raio de observação !!)
  • Obser­vatório da comu­ni­cação (Ober­com)
  • Obser­vatório da qual­i­dade do ar (…o Insti­tu­to de Mete­o­rolo­gia e Geofísi­ca não faz já isto ???)
  • Obser­vatório do cen­tro de pen­sa­men­to de políti­ca internacional
  • Obser­vatório ambi­en­tal de telede­tecção atmos­féri­ca e comu­ni­cações aeroe­s­pa­ci­ais (…este é bom !!! com o nos­so desen­volvi­men­to aero-espacial !!!)
  • Obser­vatório europeu das PME
  • Obser­vatório da restau­ração (…e se FOSSEMOS  COMER…!!!)
  • Obser­vatório de Tim­or Leste
  • Obser­vatório de reumatologia
  • Obser­vatório da cen­sura (…MAS AINDA EXISTE???.…!!!)
  • Obser­vatório do design
  • Obser­vatório da econo­mia mundial
  • Obser­vatório do mer­ca­do de arroz
  • Obser­vatório da DGV
  • Obser­vatório de neol­o­gis­mos do por­tuguês europeu
  • Obser­vatório para a edu­cação sexual
  • Obser­vatório para a reabil­i­tação urbana
  • Obser­vatório para a gestão de áreas protegidas
  • Obser­vatório europeu da sis­molo­gia (…o Insti­tu­to de Mete­o­rolo­gia e Geofísi­ca não faz isto também ???)
  • Obser­vatório nacional das doenças reumáticas
  • Obser­vatório da caça
  • Obser­vatório da habitação
  • Obser­vatório Alzheimer
  • Obser­vatório mag­néti­co de Coimbra

ACABAR COM ESTES OBSERVATÓRIOS EM VEZ DE ESMAGAREM OS PORTUGUESES DE MATAREM O QUE RESTA DA NOSSA ECONOMIAACABEM COM ESTES OBSERVATÓRIOS, FUNDAÇÕES, ENTIDADES REGULADORAS ETCTAL.

NÓS NÃO QUEREMOS PORTUGAL VENDIDO AO DESBARATO, PRIVATIZAR TUDO O QUE TEMOS, AINDA POR CIMA, PRIVATIZAÇÕES COMANDADAS POR ANTIGOS FUNCIONÁRIOS DA GOLDMAN SACHS E DO JP MORGAN !!!!!!

FORAM ELES QUE ARRUINARAM OS EUA, QUE ARRUINARAM A EUROPA E QUEREM VENDER O QUE RESTA DE PORTUGAL.

OS SEUS HOMENS TÊM ESSA MISSÃO!!!

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5 de Outubro

Esta é uma data que assi­nala dois episó­dios chave na História de Por­tu­gal. Um dos episó­dios, ocor­ri­do há 102 anos, é sobe­ja­mente con­heci­do; o out­ro, ocor­ri­do há 869, é pouco con­heci­do, pelo menos a data exacta.

Admi­to que, eu próprio, ape­nas tomei con­hec­i­men­to deste últi­mo hoje.

A maior parte dos por­tugue­ses con­hecem sim, a data de 5 de Out­ubro de 1910, por ter sido a data em que, às 11 horas da man­hã, na sala nobre dos Paços do Con­cel­ho de Lis­boa, foi declar­a­da a implan­tação de um regime repub­li­cano em Por­tu­gal, sub­sti­tuin­do a monar­quia que reinara até então.

Além do dia da Implan­tação da Repúbli­ca Por­tugue­sa, hoje é tam­bém o dia em que, há 869 anos, D. Afon­so Hen­riques assi­nou, jun­ta­mente com o seu pri­mo D. Afon­so VII de Leão e Castela, o Trata­do de Zamo­ra, que recon­hecia a existên­cia do Reino de Por­tu­gal, dan­do origem efec­ti­va a este meu ado­ra­do país.

Neste dia, o auto-procla­ma­do Rei de Por­tu­gal, D. Afon­so Hen­riques, assi­nou um trata­do, na actu­al cidade de Zamo­ra, cidade espan­ho­la situ­a­da na provín­cia de Zamo­ra, comu­nidade autóno­ma de Castela e Leão, a cer­ca de 60 quilómet­ros de Miran­da do Douro e, à altura, per­ten­cente ao Reino de Castela e Leão. Este trata­do foi o resul­ta­do de uma con­fer­ên­cia entre os dois pri­mos, facil­i­ta­do pelas acções do arce­bis­po de Bra­ga, Dom João Pecu­liar, ben­e­fi­cian­do das acções deste últi­mo para a con­ver­são do Con­da­do Por­tu­calense em Reino de Portugal.

Foi neste dia que tudo começou! Des­de este dia até à con­quista da actu­al Faro, em 1249, o Reino cresceu, reti­ran­do ter­ritórios aos Mouros e algum ao Reino de Castela e Leão que tam­bém cresceu para Sul.

A Monar­quia prevale­ceu, com altos e baixos até que, em 1890, o Rei D. Car­los foi humil­ha­do pelo ulti­ma­to inglês, recla­man­do que Por­tu­gal se reti­rasse dos actu­ais ter­ritórios dos actu­ais Zim­bab­we e Zâm­bia, que per­mi­tiria lig­ar Ango­la a Moçam­bique. Esta cedên­cia ini­ciou um movi­men­to de descon­tenta­men­to para com o Rei, que cul­mi­nou no seu assas­sínio em pelo Ter­reiro do Paço em 1 de Fevereiro de 1908.

No dia 31 de Janeiro de 1891, Augus­to Manuel Alves da Veiga, da varan­da dos Paços do Con­cel­ho do Por­to, proclam­ou a implan­tação de um regime repub­li­cano, uma revol­ta que foi dura­mente puni­da, ten­do sido con­de­na­dos 250 indi­ví­du­os com penas des­de os 18 meses a 15 anos.

Mas o espíri­to repub­li­cano prevale­ceu e o Par­tido Repub­li­cano Por­tuguês foi gan­han­do força até que, em Agos­to de 1910 obteve uma vitória avas­sal­ado­ra, ele­gen­do 14 dep­uta­dos, 10 dos quais por Lisboa.

Na madru­ga­da de 3 de Out­ubro, for­mou-se uma con­cen­tração de 200 a 300 praças do Reg­i­men­to de Artil­haria 1, 50 a 60 praças de Infan­taria 16 e cer­ca de 200 pop­u­lares na Rotun­da, actu­al Praça Mar­quês de Pom­bal. Não chegaram a haver com­bat­es, E foi sufi­ciente para a declar­ação de implan­tação da Repúbli­ca, dois dias depois.

O feri­ado civ­il de 5 de Out­ubro foi elim­i­na­do do cal­endário ofi­cial por­tuguês na sequên­cia da elim­i­nação de 4 feri­ados ofi­ci­ais (2 civis e 2 reli­giosos), por pura vas­salagem à troi­ka, elim­i­nação cuja util­i­dade ain­da terá que ser prova­da. A jus­ti­fi­cação do Gov­er­no é que temos feri­ados a mais, quan­do até esta­mos na média europeia.

A dis­plicên­cia com que o Gov­er­no tra­ta esta data espel­ha-se no for­ma­to das cer­imó­nias de 2012. À por­ta fecha­da e as primeiras nas quais não par­tic­i­pa o Primeiro-Ministro.

Mes­mo o episó­dio car­i­ca­to de ser hastea­da a ban­deira nacional ao con­trário, o que nor­mal­mente se faz em for­ma de protesto, é iróni­co per­ante a situ­ação do país.

Espan­to-me com o desre­speito que o nos­so Gov­er­no tem pela Repúbli­ca, debaixo de cujo regime foram eleitos, que faz 102 anos!

Espan­to-me ain­da mais com o desre­speito que têm por Por­tu­gal pro­pri­a­mente dito, ao elim­i­nar este feri­ado dupla­mente impor­tante para todos os portugueses.

Viva Por­tu­gal!

Viva a República!

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Ratos atrás do queijo

Tex­to reti­ra­do de um comen­tário à notí­cia ““Não é ver­dade que a maio­r­ia dos por­tugue­ses este­ja con­tra a aus­teri­dade””, pub­li­ca­da no Jor­nal de Negó­cios, por um leitor auto-inti­t­u­la­do XIZUM:

Não à aus­teri­dade cega!
A meu ver, o que está a acon­te­cer na Europa do Euro é, sim­ples­mente, um dos maiores logros de toda a história da humanidade e tem como con­se­quên­cia últi­ma a sub­ju­gação dos país­es mais fra­cos pelos mais fortes!

O exces­so de divi­da só foi pos­sív­el porque os lid­eres europeus deixaram que se acred­i­tasse pia­mente que o fac­to de exi­s­tir uma moe­da comum pres­supun­ha um risco sober­a­no igual para todos os país­es per­ten­centes á moe­da úni­ca. Isto fez desa­pare­cer os lim­ites nat­u­rais ao endi­vi­da­men­to que cada país tin­ha quan­do pos­suía uma moe­da própria. Só assim, foi pos­sív­el acu­mu­lar a divi­da que os país­es per­iféri­cos acu­mu­la­ram, porque, de out­ra for­ma, ninguém lhes teria empresta­do din­heiro ao pon­to de chegar aos actu­ais níveis de endividamento.

Ago­ra que os ratos entraram na gaio­la atrás do quei­jo, a por­ta fechou-se trás deles e só lhes res­ta per­manecer no lab­o­ratório para que pos­sam ser tes­tadas as políti­cas macro­económi­cas (a bem do pro­gres­so da ciên­cia económica).

Em resumo, os ver­dadeiros cul­pa­dos des­ta situ­ação, são:
i) em primeira lin­ha, os lid­eres europeus, que não só sabi­am dis­to, como provo­caram delib­er­ada­mente esta situ­ação, ten­do em vista con­seguir a trans­fer­ên­cia de sobera­nia dos país­es per­iféri­cos para o cen­tro da Europa (o que está a suced­er de for­ma acelerada)!
ii) O políti­cos locais porque ao endi­vi­darem-se sem lim­ite, ben­e­fi­cian­do lóbis e ami­gos que os havi­am de recon­duzir num próx­i­mo manda­to, desem­pen­haram, na per­feição, o papel do rato atrás do queijo!

Ago­ra con­tin­u­amos a cor­rer atrás do quei­jo, den­tro de uma gaio­la cilín­dri­ca, provo­can­do mais recessão e sem nun­ca o con­seguir alcançar!

A meu ver, a úni­ca solução pos­sív­el, pas­sa não pela desval­oriza­ção fis­cal dos salários, já de si, os mais baixos da Europa, mas sim pela desval­oriza­ção das dívidas.

O que nós todos temos que exi­gir é que o BCE seja o Ban­co Cen­tral do Euro e não ape­nas da Ale­man­ha! A desval­oriza­ção das dívi­das, através do aumen­to da mas­sa mon­etária em cir­cu­lação é, quan­to a mim, a úni­ca solução pos­sív­el para a crise das divi­das sober­anas. Já está mais do que prova­do que a políti­ca de “casa rouba­da tran­cas à por­ta” não funciona!

Assim, sem pre­juí­zo da imple­men­tação das regras necessárias para uma boa dis­ci­plina orça­men­tal, a solução para o prob­le­ma actu­al não está em Por­tu­gal e na aus­teri­dade. Está antes:

  1. Na políti­ca que o BCE ven­ha a seguir nos próx­i­mos meses ( Inflação, precisa-se!)
  2. Na crim­i­nal­iza­ção dos políti­cos pre­var­i­cadores (faze­dores de auto-estradas, rotun­das, polidesportivos e afins) para servirem de exemplo.
  3. Na elim­i­nação da cor­rupção exis­tente nos Órgãos do Estado
  4. Na mel­ho­ria da qual­i­dade de gestão de serviços, empre­sas e organ­is­mos públi­cos (reduzin­do o seu âmbito ape­nas ao que for estri­ta­mente necessário).
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15 de Setembro de 2012 — O dia que o povo não vai esquecer

O povo saiu à rua!

Praça de Espanha

 

Uma sem­ana depois do Primeiro-Min­istro Pedro Manuel Mamede Pas­sos Coel­ho ter admi­ti­do o fal­hanço na con­tenção da dívi­da públi­ca e anun­ci­a­do um aumen­to da con­tribuição para a Segu­rança Social por parte dos tra­bal­hadores, ao mes­mo tem­po que a reduzia para os empre­gadores, o Povo Por­tuguês quis mostrar a sua revol­ta, man­i­fe­s­tando-se paci­fi­ca­mente nas ruas de mais de 20 cidades portuguesas.

Quem viu as duas man­i­fes­tações diz que foi a maior man­i­fes­tação des­de o dia 1 de Maio de 1974, a primeira comem­o­ração do Dia do Tra­bal­hador depois da Rev­olução dos Cravos. Viram-se cravos na mão de várias pes­soas no pas­sa­do Sába­do, mas não me pos­so esque­cer das palavras de uma sen­ho­ra para a RTP Infor­mação “Não há cravos porque não há dinheiro!”.

Não me ven­ha diz­er que o Gov­er­no está a cumprir a von­tade do povo e que essa von­tade se exprime nas eleições… A von­tade do povo pode-se exprim­ir de muitas for­mas, e as man­i­fes­tações de Sába­do pas­sa­do são ape­nas uma for­ma. E que forma!

Dizem que, em Lis­boa, foram mais de 500 mil man­i­fes­tantes! Con­sideran­do que a pop­u­lação de Lis­boa é de cer­ca de 550 mil, estiver­am na rua mais de 90% da cidade e um quin­to da pop­u­lação da área met­ro­pol­i­tana, que não deixa de ser impressionante.

O povo revoltou-se con­tra o aumen­to da aus­teri­dade anun­ci­a­da por Pas­sos Coel­ho no dia 7 de Setem­bro. Ele falou de muitas coisas na gen­er­al­i­dade e ape­nas par­tic­u­lar­i­zou no aumen­to da Taxa Social Úni­ca (TSU) paga pelos tra­bal­hadores, ao mes­mo tem­po que anun­ci­a­va a redução para os empre­gadores. Durante a sem­ana toda foi crit­i­ca­do de for­ma inédi­ta por patrões, sindi­catos, tra­bal­hadores não sindi­cal­iza­dos, par­tidos políti­cos, sábios, advo­ga­dos, juízes, médi­cos, engen­heiros, e out­ros. Ape­nas o Gov­er­no dá razão ao Governo.

Pas­sos Coel­ho foi muito lesto a quan­tificar o aumen­to da con­tribuição por parte dos tra­bal­hadores e muito ler­do a quan­tificar quan­to iria cor­tar em fun­dações, parce­rias pub­li­co-pri­vadas (as famiger­adas PPPs), gestores públi­cos, etc. Far­ta-se de apelar à poupança e aumen­ta a taxa de IRS a pagar pelos depósi­tos a pra­zo. Não quan­tifi­ca quan­to irá encaixar com a trib­u­tação dos imóveis de luxo, ape­nas diz que se con­sid­er­am de luxo aci­ma de um val­or pat­ri­mo­ni­al de 1 mil­hão de euros. Em suma, gas­tou 20 min­u­tos do nos­so tem­po, em horário nobre, ape­nas para diz­er que irá afun­dar ain­da mais a econo­mia do nos­so país. Esquece-se que existe um tec­to de 5030 euros para a base da TSU, o que quer diz­er que, quem tem mais que isso de salário ilíqui­do, ape­nas paga 11% sobre esse val­or (António Mex­ia, às cus­tas deste tec­to, ape­nas pagou 7746,2 euros em 2011, quan­do teria de pagar cer­ca de 116.600 se não hou­vesse esse tec­to). Ain­da nos vem ati­rar areia para os olhos quan­do fala em equidade…

Faz isto antes de um jogo impor­tante da Selecção Nacional de Fute­bol, provavel­mente com a crença que o iríamos esque­cer depois do jogo, prin­ci­pal­mente se a Selecção gan­has­se, o que veio a acon­te­cer. Mas o povo não esqueceu.

O povo não esque­ceu ain­da de esper­ar por Paulo de Sacadu­ra Cabral Por­tas, líder do CDS-PP, Min­istro dos Negó­cios Estrangeiros e par­ceiro de col­i­gação gov­er­na­men­tal, quan­do ele se res­guardou no silên­cio, e bem, enquan­to se encon­tra­va em visi­ta ofi­cial ao Brasil.

O povo não se esque­ceu de Miguel Rel­vas, por muitos con­sid­er­a­do o bobo deste Gov­er­no, não se con­teve e desatou a comen­tar políti­ca inter­na no estrangeiro. Mais valia estar calado…

O povo não se esque­ceu depois de Paulo Por­tas ter con­vo­ca­do uma reunião do Con­sel­ho Nacional do CDS-PP para este fim-de-sem­ana, sug­erindo de algu­ma for­ma que o Gov­er­no estaria em risco, por via do descon­hec­i­men­to destas medi­das por Paulo Portas.

O povo não se esque­ceu, mes­mo depois de assi­s­tir à entre­vista con­ce­di­da por Pas­sos Coel­ho, na residên­cia ofi­cial do Primeiro-Min­istro, em que foi dito mais do mes­mo, ou seja, nada. Mais um rol de men­ti­ras e meias ver­dades dis­farçadas de patri­o­tismo, a aten­tar con­tra a seriedade, ded­i­cação e inteligên­cia dos portugueses.

O povo não se esque­ceu depois de obser­var o silên­cio ensur­de­ce­dor do Pres­i­dente da Repúbli­ca Aníbal António Cava­co Sil­va que se tem cal­a­do per­ante tal afronta aos dire­itos dos por­tugue­ses, não evi­tan­do bocas infe­lizes de não con­seguir pagar as suas con­tas com a refor­ma que aufere.

O povo não se esque­ceu das promes­sas do Gov­er­no, nas quais afir­ma que vai cor­tar as gor­duras do Esta­do, mas que ain­da não se sabem onde estão; as fun­dações de dire­ito pri­va­do que pouco ou nen­hum bene­fí­cio trazem, as ren­das atribuí­das a empre­sas que não pre­cisam delas, as PPPs rodoviárias, com taxas de rendibil­i­dade baseadas em parâmet­ros fixos e mal expli­ca­dos; os gas­tos com empre­sas públi­cas que cada vez mais cor­tam cus­tos onde não devem, nos tra­bal­hadores e aumen­tam preços dos serviços que fornecem ao públi­co; os priv­ilé­gios mal com­preen­di­dos dos gestores públi­cos, min­istros, secretários de esta­do, asses­sores, etc; as nomeações para car­gos públi­co, muitas vezes feitas por afinidade par­tidária e famil­iar a pes­soas que, sal­vo raras excepções, não reúnem nem exper­iên­cia, nem com­petên­cia para tais car­gos e, ain­da por cima, com salários muito aci­ma da média nacional. Pode­ria con­tin­uar a especi­ficar aqui gor­duras do Esta­do, que toda a gente sabe que exis­tem e ape­nas o Gov­er­no não as vê…

Paulo Por­tas con­tin­u­ou cal­a­do até à con­clusão do dito Con­sel­ho Nacional para diz­er que afi­nal não está de acor­do com o aumen­to da TSU, mas não blo­queou a decisão para não blo­quear as nego­ci­ações com a Troi­ka. Que grande coerên­cia! Que grande hipócri­ta! Que grande cíni­co! Men­tiu ao Povo por­tuguês, mas aci­ma de tudo (do pon­to de vista dele), aos “cre­dores inter­na­cionais” que tan­to preza.

Para Sex­ta-feira próx­i­ma está agen­da­da uma reunião do Con­sel­ho de Esta­do, o órgão con­sul­ti­vo do Pres­i­dente da Repúbli­ca, que lhe vai diz­er o que toda a gente sabe, mas que provavel­mente vai entrar num dos ouvi­dos de Cava­co Sil­va, ser acel­er­a­do pelo vazio que se encon­tra na sua cabeça e sair pelo out­ro ouvi­do muito dis­tor­ci­do e mais rapidamente.

Ago­ra é que começaram as nego­ci­ações para ten­tar encon­trar 2,5 mil mil­hões de euros, que devem ter desa­pare­ci­da da con­tabil­i­dade ger­al do Esta­do por obra e graça do Espíri­to San­to. Sen­hor Pro­fes­sor Doutor Vítor Louçã Rabaça Gas­par, Min­istro das Finanças, eu digo-lhe onde foram parar ess­es 2,5 mil mil­hões: foram as que­bras de recei­ta do IVA que aumen­tou, soma­do aos sub­sí­dios de desem­prego que aumen­taram, que, por sinal tam­bém reduz­iu em val­or indi­vid­ual, ali­a­dos aos gas­tos cres­centes das PPPs (que vão aumen­tar até pelo menos até 2015–2020), ali­a­dos ao juros usurários que são cobra­dos pela Troi­ka, e mais umas quan­tas parce­las que parece que fal­tam no seu ficheiro de Excel.

O povo não se vai esque­cer de ficar aten­to ao dia 15 de Out­ubro, data em que tem que ser divul­ga­do o Orça­men­to de Esta­do para 2013. Podem crer, pes­soas do Gov­er­no, que nos lem­braremos de protes­tar se con­tin­uar a políti­ca de espo­li­ação do povo.

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Ao que isto chegou…

Encon­trei este tex­to no Face­book, mas como é algo lon­go, resolvi par­til­há-lo aqui.

Este é um tex­to lon­go, pouco face­book friend­ly, mas à fal­ta de mel­hor sítio para expres­sar o que me vai na alma, aqui fica:

Vão-se foder.
Na ado­lescên­cia usamos vernácu­lo porque é “fixe”. Depois deix­amo-nos disso.
Aos 32 sin­to-me nova­mente no dire­ito de usar vernácu­lo, quan­do real­mente me apetece e neste momen­to apetece-me diz­er: Vão-se foder!

Tra­bal­ho há 11 anos. Sem­pre por con­ta de out­rém. Come­cei numa micro empre­sa por­tugue­sa e mudei-me para um gigante multinacional.
Acred­itei, des­de sem­pre, que fru­to do meu tra­bal­ho, esforço, ded­i­cação e tam­bém, quan­do necessário, resistên­cia à frus­tração alcançaria os meus objec­tivos. E, pasme-se, foi ver­dade. Aos 32 anos tra­bal­ho na min­ha área de for­mação, feliz com o que faço e com um orde­na­do supe­ri­or à média do que será o das pes­soas da min­ha idade.
Por isso expli­co já, o que vou escr­ev­er tem pouco (mas tem algu­ma coisa) a ver comi­go. Vivo bem, não sou rica. Os meus sub­sí­dios de férias e Natal servem exac­ta­mente para isso: para ir de férias e para com­prar pren­das de Natal. Jan­to fora, pas­so fins-de-sem­ana com ami­gos, dou-me a pequenos lux­os aqui e ali. Mas faço as min­has con­tas, con­tro­lo o meu orça­men­to, não faço tudo o que quero e sem­pre fui edu­ca­da a poupar.
Vivo, com a sat­is­fação de poder aproveitar o lado bom da vida fru­to do meu tra­bal­ho e de um orde­na­do que batal­hei para ter.
Sou uma pes­soa de muitas con­vicções, às vezes até caio nal­gu­mas antagóni­cas que nem eu sei resolver muito bem. Con­vi­vo com sim­pa­tia por IDEIAS que vão da esquer­da à dire­i­ta. Pos­so “bater pal­mas” ao do CDS, como pos­so estar no dia seguinte a faz­er uma vénia a comu­nistas num tema difer­ente, mas como sou pouco dado a extrem­is­mos sem­pre fui votan­do ao cen­tro. Mas de IDEIAS sen­hores, esta­mos todos far­tos. O que nós queríamos mes­mo era ACÇÕES, e sobre as acções que ten­ho vis­to só ten­ho uma coisa a diz­er: vão-se foder. Todos. De uma pon­ta à outra.
Des­de que este pequeno, mas mar­avil­ho país se desco­briu de cor­da na gar­gan­ta com dívi­das para a vida nun­ca me insur­gi. Ouvi, informei-me aqui e ali. Perce­bi. Nun­ca fui a uma man­i­fes­tação. Levaram-me metade do sub­sí­dio de Natal e eu não me queix­ei. Per­ante ami­gos e família mais indig­na­dos fiz o papel de corno con­for­ma­do: “tem que ser”, “todos temos que aju­dar”, “vamos levar este país para a frente”. Cheguei a con­sid­er­ar que cer­tas greves eram uma ver­dadeira afronta a um país que pre­cisa­va era de suor e esforço. Sim, eu era assim antes de 6ª feira. Ago­ra, hoje, só ten­ho uma coisa para vos diz­er: Vão-se foder.
Matam-nos a esperança.
Onde é que estão os cortes na despe­sa? Porque é que o 1º Min­istro nun­ca perdeu 30 min­u­tos da sua vida, antes de um jogo de fute­bol, para nos vir explicar como é que anda a cor­tar nas gor­duras do esta­do? O que é que vai faz­er sobre fun­cionários de cer­tas empre­sas que recebem sub­sí­dios diários por apare­cerem no tra­bal­ho (vul­go sub­sí­dios de assiduidade)?… É per­mi­ti­do rir neste parte. Em quan­to é que andou a cor­tar nos sub­sí­dios para fun­dações de carác­ter mais do que duvi­doso, espe­cial­mente com a crise que atrav­es­sa o país? Quan­do é que páram de mamar grandes empre­sas à con­ta de PPP’s que até ao mais dis­traí­do do cidadão não pas­sam des­perce­bidas? Quan­do é que aca­ba com regalias insul­tu­osas para uma cam­ba­da de dep­uta­dos, eleitos pelo povo cré­du­lo, que vão sen­tar os seus reais rabos (quan­do lá apare­cem) para vom­i­tar dem­a­gogias em que já ninguém acredita?
Per­doem-me as chan­tagem emo­cional sen­hores min­istros, asses­sores, secretários e demais per­son­agem eleitos ou boys des­ta vida, mas os pneus dos vos­sos BMW’s davam para ali­men­tar as cri­anças do nos­so país (que ain­da não é em África) que chegam hoje em dia à esco­la sem um pedaço de pão de bucho. Por isso, se o tem­po é de crise, come­cem a andar de opel cor­sa, porque eu que tra­bal­ho há 11 anos e acho que crédi­to é coisa de ricos, ain­da não pas­sei dessa fasquia.
E para ter­mi­nar, um “par” de con­sid­er­ações sobre o vos­so anún­cio de 6ª feira.
Estou na dúvi­da se o fiz­er­am por real lata ou por um descon­hec­i­men­to pro­fun­do do país que governam.
Aumen­ta-me em mais de 60% a min­ha con­tribuição para a segu­rança social, não é? No meu caso isso equiv­ale a sub­sí­dio e meio e não “a um sub­sí­dio”. Esse din­heiro vai para onde que ninguém me expli­cou? Para a puta de uma refor­ma que eu nun­ca vou rece­ber? Ou para pagar o salário dos admin­istradores da CGD?
Baix­am a TSU das empre­sas. Clap, clap, clap… Uma vénia!
Vocês, que sen­tam o já aci­ma men­ciona­do real rabo ness­es gabi­netes, sabem o que se pas­sa no neste país? Mas acham que as empre­sas estão a crescer e deses­per­adas por din­heiro para cri­ar pos­tos de tra­bal­ho? A sério? Vão-se foder.
As peque­nas empre­sas vão poder res­pi­rar com essa medi­da. E não des­pedir mais um ou dois.
As grandes, as dos mil­hões? Essas vão agar­rar no relatório e con­tas pôr lá um proveito ines­per­a­do e dis­tribuir mais div­i­den­dos aos accionistas. Ou no vos­so mun­do as empre­sas pri­vadas são a San­ta Casa da Mis­er­icór­dia e vão já já a cor­rer cri­ar pos­tos de tra­bal­ho só porque o Esta­do con­sid­era a actu­al taxa de desem­prego um fla­ge­lo? Que o é.
A sério… Em que país vivem? Vão-se foder.
Mas querem o bene­fí­cio da dúvi­da? Eu dou-vos:
1º Provem-me que os meus 7% vão para a min­ha refor­ma. Se quis­erem até o guar­do eu no meu PPR.
2º Criem quo­tas para novos pos­tos de tra­bal­ho que as empre­sas vão cri­ar com esta medi­da. E olhem, até vos dou esta ideia de graça: as empre­sas que não cumprirem tem que devolver os mais de 5% que vai poupar. Vai ser uma belo negó­cio para o Esta­do… Digo-vos eu que estou no mun­do real de onde vocês pare­cem, infe­liz­mente, tão longe.
Ter­mi­no dizen­do que me sin­to pela primeira vez pro­fun­da­mente triste. Por isso vos digo que até a mim, resistente, real­ista, luta­do­ra, com­preen­si­va… Até a mim me mataram a esperança.
Talvez me vá emb­o­ra. Talvez pon­dere com imen­sa pena e uma enorme dor no coração deixar para trás o país onde tan­to gos­to de viv­er, o tra­bal­ho que tan­to gos­to de faz­er, a família que amo, os ami­gos que me acom­pan­ham, onde pen­sa­va breve­mente ter fil­hos, mas olhem… Con­tas feitas, aqui neste t2 onde vive­mos, levaram-nos o din­heiro de um infantário.
Talvez vá. E levo comi­go os meus impos­tos e uma pena imen­sa por quem tem que cá ficar.
Por isso, do alto dos meus 32 anos digo: Vão-se foder.“Autora desconhecida
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Esperteza saloia”

O por­tuguês típi­co é esper­to. Em Abril de 2009, a revista Cracked pub­li­cou uma lista de 10 palavras não ingle­sas que fazi­am fal­ta ao inglês. Uma delas foi “desen­ras­canço”.

O “desen­ras­canço” é uma qual­i­dade tipi­ca­mente por­tugue­sa. O por­tuguês típi­co socorre-se fre­quente­mente des­ta qual­i­dade para sair de situ­ações difí­ceis, embaraçosas e não triviais.

Mas existe uma qual­i­dade tam­bém tipi­ca­mente por­tugue­sa que é a “esperteza”. Fico par­tic­u­lar­mente chatea­do quan­do a “esperteza” é apli­ca­da à cus­ta dos out­ros, e, mais ain­da, aprovei­tan­do-se de uma qual­quer condição de vida, para sair de cer­tas situações.

Hoje, no habit­u­al cam­in­ho para o tra­bal­ho, parei atrás de um car­ro car­ac­ter­i­za­do da Briga­da Fis­cal da GNR (afi­nal parece que não foi extin­ta) na saí­da do IC19 para S. Mar­cos. Como é habit­u­al, for­ma-se sem­pre uma peque­na fila (prin­ci­pal­mente porque as pes­soas não sabem andar em rotun­das), que hoje era de cer­ca de 300 metros.

Ora, o dito car­ro da GNR já vin­ha à min­ha frente des­de a entra­da da Amado­ra (ime­di­ata­mente antes da saí­da para o Palá­cio Nacional de Queluz), e seguia em mar­cha nor­mal, isto é, sem pir­il­am­pos ace­sos e à mes­ma veloci­dade de todos os out­ros carros.

Con­fronta­do com essa fila, o agente da GNR que con­duzia a viatu­ra não esteve com meias medi­das: ligou os pir­il­am­pos e aproveitou-se para “furar” a dita fila para S. Mar­cos. Fiquei pior que estra­ga­do, mas, ao mes­mo tem­po, mar­avil­ha­do com a “esperteza” do dito agente da autoridade…

Sen­ti-me vilipen­di­a­do na min­ha condição de con­du­tor, após ter assis­ti­do àquela cena de “esperteza saloia”, e acred­i­to que out­ras pes­soas ficaram com a mes­ma sen­sação, mas, ao mes­mo tem­po, mar­avil­ha­do com a capaci­dade de desen­ras­canço daque­le agente da GNR

São estas e out­ras ati­tudes que fazem com que se respeite cada vez menos os agentes da autori­dade deste país pelos quais, sal­vo raras excepções, ten­ho grande apreço e respeito.

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Memórias de um ex-desempregado

[E]star desem­pre­ga­do é uma condição que, infe­liz­mente, afec­ta muitos por­tugue­ses hoje em dia. Muito se fala de desem­prego nas notí­cias, mas muito poucos sabem o que isso sig­nifi­ca real­mente para a saúde men­tal e físi­ca de uma pes­soa. Estar desem­pre­ga­do é um ver­dadeiro teste de resistên­cia pes­soal à frus­tração e tédio.

Fala-se tam­bém muito de desem­prego jovem, mas acho que pos­so afir­mar com algu­ma certeza que são as pes­soas que já tiver­am algum emprego e inde­pendên­cia que são as mais afec­tadas psicologicamente.

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